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No cárcere

A libertação se encontra  na ilusão Não se obtém nos grilhões  da realidade Nua, crua e pérfida Traz consigo amarras  do tangível  do cabal A deidade fantástica leva em seu pote  ópio e mirra Curativos para a alma fendida

Livre-Arbítreo

Livre-arbítrio é o agir de determinada forma, ou deixar de agir, sem nenhuma razão para tal escolha a não ser o próprio alvedrio. Ou, a escolha dirigida pela vontade: o indivíduo age de certa maneira porque assim quer e sente-se responsável pelo ato praticado. Por ser a capacidade de escolher entre o bem e o mal, o livre-arbítrio é "a faculdade da razão e da vontade, por meio da qual escolhe-se o bem, mediante o auxílio da graça, e o mal, pela ausência dela"...que bem é o seu, que mal é o meu? Nada nos aflige mais do que estar à margem, e tampouco nos onera à responsabilidade. Apenas nos direciona, aponta um trilhar de equívocos sustentáveis à nossa própria fragilidade. Grosseiramente, o que passa entre a escolha e o afastamento da realidade é a fantasia. A abnegação é intrínseca aos pensantes, aos aventureiros e aos loucos.

Empoderamento Feminino

Não me venha com esse papinho de igualdade de direitos! Muito menos de deveres! Como acreditar que somos equivalentes quando no meu trabalho, onde investi toda minha juventude estudando e me aprimorando, dedico oito horas por dia, vinte seis dias por mês e meu salário é menor? E que meu cargo, muito embora minha produtividade seja a mesma, seja inferior ao do meu colega de terno? E falando sobre roupas, apresentar-me discreta e sóbria, para não ser a responsável por provocar no outro assédio criminoso? E que ao ser questionada por minha orientação sexual, escolha política ou rotina pessoal, tenha que me provar ponderada, de índole ilibada, ajustada ao padrão social para ser respeitada, ou mesmo para não ser agredida, quando o exemplar masculino é ouvido sem risco de humilhação ou  constrangimento? E que quando em grupo, homens sintam-se à vontade para recostar suas virilhas suadas ou outras partes contra meu corpo, ou descontraidamente dizer o que pensam sobre ele? ...

Entre cachorros e pijamas

Sentindo o ventinho frio nos fundilhos da calça de um pijama puído, arrastando as chinelas na preguiça de um domingo flácido, transporto Crisântemo com destino ao alívio de seus intestinos caninos. Por entre as ruas cruzamos com Gagá, a pastora do vizinho Hering, que insiste em latir esganiçada,  com Einstein da velhota Any Any, elegante no porte mas inconveniente em investigar com seu focinho minhas partes pudendas, ou com a basset asssemelhada a um gato gordo e carente da Puket. Temendo por uma investida agressiva, ou acolhendo carinhos de língua, nós, os dirigidos donos, nos cumprimentamos e jogamos a mesma conversinha banal fora, enquanto os bichos se reconhecem pelo faro.  A noite chegara a pouco, e ouvimos o burburinho de animados grupos nos bares, recém chegados do almoço em família. Olhares analíticos deles, vezes para os animais, vezes para nosso descompromisso. Falta pouco para juntar-me àquele chopp e risadas, deixar meu pet descobrir outras plagas e caminhar so...

Descaminhos

e lá, a perder de vista a muitos passos do descaminho existe um cruzamento de pensamentos estreitado por entre as vielas sombras do desconfiado instinto fluxo contínuo de sentidos e já pronto, a encontrar destino raciocínio impreciso dos paralelepípedos esbarrando reforçar os extremos Se extenua pela missão eterna enquanto remota meta asfalto consistente de delírios e aqui está, a interseção do desígnio escolhas a convocar os fatos estacionar finalmente em seu termo.

Crime ou castigo?

Os competidores desenvolveriam drogas recreativas e medicinais cada vez mais seguras em um mercado livre e desregulamentado, disputariam certificados de qualidade de empresas privadas e estariam sujeitos a processos judiciais em caso de fraude ou defeito, porém, n o intento de impedir o consumo de drogas - como se não tivéssemos soberania sobre nossa própria carcaça - as leis antidrogas fortificam a indústria proibida que é então dominada por quadrilhas. A consequência inexorável é a violência e mortandade entre os concorrentes, além da adulteração na qualidade e segurança do produto. A criminalidade vai se alastrando por toda a sociedade.  Levanta-se outra polêmica, a que o usuário de drogas sobrecarrega a saúde pública , o que me parece abrir precedente a um autoritarismo rígido, uma vez que o mesmo poderia ser dito de obesos, fumantes, sedentários, promíscuos, alcoolatras ou aposentados... De qualquer maneira, é a descriminalização o que minimizaria os danos à saúde do u...

No mármore

Pernas alheias à vontade chão frio e batido luzes difusas refletidas Obcuros defeitos, escondidos Indefinida forma, imprópria Loucura de gozo e carinho Tudo disperso por exaspero algo que precisaria ser dito E lá estamos novamente encarando nosso abismo De quem é o próximo passo Qual será o caminho Esgotando as possibilidades Fundamentando princípios priorizando o que nos vale Eliminando o impreciso De coisa alguma se vale Buscar razão ou sentido Deixar-se levar é premente Então para que o consecutivo.

E em um país...

Aqui fora o vinho congela colocamos a garrafa, contamos com o frio as luzes brilham de dentro para fora o calor está nos perturbando e que se encontre a temperatura e que se perca o tempo ideal Fizemos o possível para embebedar a fantasia mas o concierge não atendeu nada é perfeito nos ignorou pedaços de lembrança e vontade estamos na linha, babe Quem vai enfrentar a cortante verdade embalar no trilho irregular escutar o barulho da realidade A torre está lá edificada na neblina a torre ri de nós reprodução da nossa confusão a fonte não secou Baco não fugiu O desejo não cessou O jogo nem começou Mas o vinho gelou...

Enfim

Tocar tocando no topo Desvencilhar desse pano roto Rasgar a ferida Largar frutos secos Figos soltos a esmigalhar Rodar rondando a revolta Andar onde a terra move Pular podres opostos Saltando no ar Preencher enfim o oco Mitigar o que é de direito Realçar o encoberto Revelar  ... consumar E desmerecer.
Brota da onde não vem esperança Volta a beleza em frente ao ferro Dá prisma ao que desaparece no caminho O desalinho do asfalto não sossega sua cor Vem na fragrância do idílico Brinca com o desespero aferido Nada tem com o lugar que se propôs Vida breve ou longa, sem decoro Vai de acordo com seu impulso Força motriz e pureza não se detenha pelo entorno Não esmoreça na cinza Porque nascemos para vingar E nada tem de bom ou mau Simples ou diferente Que nos perca, alucine ou fuja do lugar.

Lavrador

Reconhecer em cada pedaço de terra um suspiro Sentir a alvorada da fertilidade Fazer daquela plantação sustento Capinar por frutos onde só havia vazio Foram assim sucedendo colheitas A água que desmoronava do céu cinzento Vinha suscitar o melhor do vermelho Lavar a superfície para encontrar o pomo Em mãos e pés ásperos da lida Decorridas vindimas mirradas Tem sentidos calados chão remexido No canto O sopro e o descanso Escondido em barro molhado Havia algo verdadeiramente profícuo A premência enterrou a fome Pois de afoito afã se faz o homem
Voar alto mesmo que com grilhões em meus tornozelos Os que sustentaram tanto peso podem ser leves Deixar que o vento contrário envolva minhas asas As que agitaram tanto insucesso podem propulsar Prostrar humilde o torso endurecido O que tanta angústia pode amortecer Rasgar o silêncio do descaso Aquele que a distância apaziguou Atravessar a gélida melancolia Revelar às ondas do colossal desassossego.
Da vida tortuosa esquisita desponta uma fita   De espiralada trajetória Justa à medida surge o vértice da fita À distância agitada e vibrante desejosa por ser escolhida  ali está a fita Enrolando acintosa atenção ao movimento tralha desmedida Alcançando a ilusão largar o seu dia Puxe a ponta e fica.
  The morning will be so real, so perfect, like a dream, the taste of a dream to be remembered by a dreamer woken in another dream. Will she really be there, and will it still be her? What kind of customs and performances will she follow? There will be as many versions of the memory as there are people to remember it. Why will she turn away, and why will she then look us straight in the eye? Ivy will climb up the columns, and atlases will be filled with numbered figures. Nascent shadows will spill across the terraces, and one’s eyes will grow accustomed to the symmetry. Where will the images spring up from? From which layer of consciousness will they emerge? Will anybody remember the riddle of the maze, and will anybody be able to finish the unfinished sentences? Perhaps it will be a Sunday in an odd year in an even century, and it will happen to be the day of the equinox. She will begin her sentences with ‘I’. We will list the names of co...

Desilusão

Impressão de alento a falta no vento descoberta do nada frente ao todo que se rebela Trás do forte a prudência Leva da inocência a mente Pára com o tempo e refaz Fende dentro o que era Vai para a lembrança o registro e lá do alto realiza é brisa.

Percepção

E em silêncio alto Venho escorrendo pelas frestas Mapeando a terra Venho anunciando a apatia Acontece soando surdo Venho esmurrando a porta Apertando e esfolando o que importa Esmigalhando o que vai embora. Denise Machado

Festa

E aí com o bofe escancarado o olhar dilacerado a língua frouxa Rompemos os lares despimos pilares a face louca Brincamos estranhos e ridículos observamos a selva rouca Do lote o reconhecimento o brinquedo atento esse carinho solto.

Na Medida

Roupagem nova para antigos demônios E eles se riem pomposos, garbosos Forçam-me a deitar sob seu descrédito Adorar-lhes humildemente sua força Mas se não fui eu que reiscindi a costura Daqueles velhos trapos que desapareciam Renovei suas emendas, suas pregas e mangas Cerzi cada folga delicadamente, à medida Promovendo recentes modelos com caimento Dessa viçosa rama de fios a enredar-me Encontro-me atual num nó de tecidos Amarrei o avanço num retrocesso juvenil E eles se riem soberbos, esnobes E vislumbro ali um brilho metálico E eles se riem pedantes, magníficos E é tão gritante retalhar o moderno figurino

Contradição

Sofro por não haver saída Por acreditar na mentira Me levar à medida Rezo por não pertencer ao todo Por desdizer ao lodo Mancomunar a rodo Rio dos próprios desmerecimentos Choro pelos acontecimentos Fujo do entendimento Lá em minha ilha não tem palmeiras Em meu recanto imaginário, são videiras Que pesadas caem de tristeza Vai-te embora solidão Retira-se do recanto a precisão Arranca de vez a prospecção