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Entre cachorros e pijamas

Sentindo o ventinho frio nos fundilhos da calça de um pijama puído, arrastando as chinelas na preguiça de um domingo flácido, transporto Crisântemo com destino ao alívio de seus intestinos caninos.
Por entre as ruas cruzamos com Gagá, a pastora do vizinho Hering, que insiste em latir esganiçada,  com Einstein da velhota Any Any, elegante no porte mas inconveniente em investigar com seu focinho minhas partes pudendas, ou com a basset asssemelhada a um gato gordo e carente da Puket.
Temendo por uma investida agressiva, ou acolhendo carinhos de língua, nós, os dirigidos donos, nos cumprimentamos e jogamos a mesma conversinha banal fora, enquanto os bichos se reconhecem pelo faro. 
A noite chegara a pouco, e ouvimos o burburinho de animados grupos nos bares, recém chegados do almoço em família. Olhares analíticos deles, vezes para os animais, vezes para nosso descompromisso.
Falta pouco para juntar-me àquele chopp e risadas, deixar meu pet descobrir outras plagas e caminhar solto. A princípio estranhariam a repentina e descontraída companhia, mas acredito que logo ficariam à vontade, afinal, quem poderia sentir-se ameaçado por uma jovem com seu confortável traje de dormir e seu totó liberto? Sim, porque entramos num acordo, Crisântemo e eu. Ele fica sem coleira e eu sem brecadas bruscas.
E lá vamos nós, para a escolhida tenra moita, bem cuidada no meio da calçada. Ali tudo para, a tranquilidade toma conta do corpo peludo e só se vê alijamento...
Que beleza essa nossa informal caminhada, cada dobrada de esquina uma frondosa árvore a nos acolher, um rabo balançando uma rota nova a desvendar.

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No cárcere

A libertação se encontra  na ilusão Não se obtém nos grilhões  da realidade Nua, crua e pérfida Traz consigo amarras  do tangível  do cabal A deidade fantástica leva em seu pote  ópio e mirra Curativos para a alma fendida