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Entre cachorros e pijamas

Sentindo o ventinho frio nos fundilhos da calça de um pijama puído, arrastando as chinelas na preguiça de um domingo flácido, transporto Crisântemo com destino ao alívio de seus intestinos caninos. Por entre as ruas cruzamos com Gagá, a pastora do vizinho Hering, que insiste em latir esganiçada,  com Einstein da velhota Any Any, elegante no porte mas inconveniente em investigar com seu focinho minhas partes pudendas, ou com a basset asssemelhada a um gato gordo e carente da Puket. Temendo por uma investida agressiva, ou acolhendo carinhos de língua, nós, os dirigidos donos, nos cumprimentamos e jogamos a mesma conversinha banal fora, enquanto os bichos se reconhecem pelo faro.  A noite chegara a pouco, e ouvimos o burburinho de animados grupos nos bares, recém chegados do almoço em família. Olhares analíticos deles, vezes para os animais, vezes para nosso descompromisso. Falta pouco para juntar-me àquele chopp e risadas, deixar meu pet descobrir outras plagas e caminhar so...

Descaminhos

e lá, a perder de vista a muitos passos do descaminho existe um cruzamento de pensamentos estreitado por entre as vielas sombras do desconfiado instinto fluxo contínuo de sentidos e já pronto, a encontrar destino raciocínio impreciso dos paralelepípedos esbarrando reforçar os extremos Se extenua pela missão eterna enquanto remota meta asfalto consistente de delírios e aqui está, a interseção do desígnio escolhas a convocar os fatos estacionar finalmente em seu termo.

Crime ou castigo?

Os competidores desenvolveriam drogas recreativas e medicinais cada vez mais seguras em um mercado livre e desregulamentado, disputariam certificados de qualidade de empresas privadas e estariam sujeitos a processos judiciais em caso de fraude ou defeito, porém, n o intento de impedir o consumo de drogas - como se não tivéssemos soberania sobre nossa própria carcaça - as leis antidrogas fortificam a indústria proibida que é então dominada por quadrilhas. A consequência inexorável é a violência e mortandade entre os concorrentes, além da adulteração na qualidade e segurança do produto. A criminalidade vai se alastrando por toda a sociedade.  Levanta-se outra polêmica, a que o usuário de drogas sobrecarrega a saúde pública , o que me parece abrir precedente a um autoritarismo rígido, uma vez que o mesmo poderia ser dito de obesos, fumantes, sedentários, promíscuos, alcoolatras ou aposentados... De qualquer maneira, é a descriminalização o que minimizaria os danos à saúde do u...

No mármore

Pernas alheias à vontade chão frio e batido luzes difusas refletidas Obcuros defeitos, escondidos Indefinida forma, imprópria Loucura de gozo e carinho Tudo disperso por exaspero algo que precisaria ser dito E lá estamos novamente encarando nosso abismo De quem é o próximo passo Qual será o caminho Esgotando as possibilidades Fundamentando princípios priorizando o que nos vale Eliminando o impreciso De coisa alguma se vale Buscar razão ou sentido Deixar-se levar é premente Então para que o consecutivo.

E em um país...

Aqui fora o vinho congela colocamos a garrafa, contamos com o frio as luzes brilham de dentro para fora o calor está nos perturbando e que se encontre a temperatura e que se perca o tempo ideal Fizemos o possível para embebedar a fantasia mas o concierge não atendeu nada é perfeito nos ignorou pedaços de lembrança e vontade estamos na linha, babe Quem vai enfrentar a cortante verdade embalar no trilho irregular escutar o barulho da realidade A torre está lá edificada na neblina a torre ri de nós reprodução da nossa confusão a fonte não secou Baco não fugiu O desejo não cessou O jogo nem começou Mas o vinho gelou...

Enfim

Tocar tocando no topo Desvencilhar desse pano roto Rasgar a ferida Largar frutos secos Figos soltos a esmigalhar Rodar rondando a revolta Andar onde a terra move Pular podres opostos Saltando no ar Preencher enfim o oco Mitigar o que é de direito Realçar o encoberto Revelar  ... consumar E desmerecer.
Brota da onde não vem esperança Volta a beleza em frente ao ferro Dá prisma ao que desaparece no caminho O desalinho do asfalto não sossega sua cor Vem na fragrância do idílico Brinca com o desespero aferido Nada tem com o lugar que se propôs Vida breve ou longa, sem decoro Vai de acordo com seu impulso Força motriz e pureza não se detenha pelo entorno Não esmoreça na cinza Porque nascemos para vingar E nada tem de bom ou mau Simples ou diferente Que nos perca, alucine ou fuja do lugar.

Lavrador

Reconhecer em cada pedaço de terra um suspiro Sentir a alvorada da fertilidade Fazer daquela plantação sustento Capinar por frutos onde só havia vazio Foram assim sucedendo colheitas A água que desmoronava do céu cinzento Vinha suscitar o melhor do vermelho Lavar a superfície para encontrar o pomo Em mãos e pés ásperos da lida Decorridas vindimas mirradas Tem sentidos calados chão remexido No canto O sopro e o descanso Escondido em barro molhado Havia algo verdadeiramente profícuo A premência enterrou a fome Pois de afoito afã se faz o homem
Voar alto mesmo que com grilhões em meus tornozelos Os que sustentaram tanto peso podem ser leves Deixar que o vento contrário envolva minhas asas As que agitaram tanto insucesso podem propulsar Prostrar humilde o torso endurecido O que tanta angústia pode amortecer Rasgar o silêncio do descaso Aquele que a distância apaziguou Atravessar a gélida melancolia Revelar às ondas do colossal desassossego.
Da vida tortuosa esquisita desponta uma fita   De espiralada trajetória Justa à medida surge o vértice da fita À distância agitada e vibrante desejosa por ser escolhida  ali está a fita Enrolando acintosa atenção ao movimento tralha desmedida Alcançando a ilusão largar o seu dia Puxe a ponta e fica.