Pular para o conteúdo principal

Postagens

mudando tudo dentro do nada a única coisa que não muda é essa vontade a curiosidade de não ser o que sempre vi como um facão cortando fundo a pele sua boca na minha ainda tem o mesmo gosto não misturei nada nem me atrevi gostaria de voar por outros ares campos e areias diferentes dos seus mas só consigo sentir a sua maresia fazer o que obstinadamente persigo nessa imagem sensação e intensidade imensurável   inexplicável vai acontecer alguma coisa o mar trará outras conchas mas sua cor ainda estará na minha retina
sóbria cortando cebolas alerta atendendo campainhas sensível torcendo toalhas ativa revirando gavetas experimentando horas a rotina revisitando a garagem lugar comum

Meditação

Ver simplesmente a confundia, não a ajudava. Nunca. Enxergar, por outro lado, a amargurava ainda mais. Passou esses anos todos sem um mínimo vislumbre da verdade que lhe propunha a vida. Inventava a sua. Combinação de livre associação, suposições e muita criatividade, misturadas a uma ponta de desmerecimento e inadequação. Com os braços estendidos e as mãos trêmulas, tateava o intangível. Vez em quando pedia auxílio de um ou outro para guiá-la, sem sucesso. Não confiava em ninguém! Se perdia tantas, incontáveis vezes, mas sempre parecia parar no mesmo lugar. Recostava para retomar o fôlego, ou apenas por uma preguiça indomável. E lá ia ela de novo, em mais uma travessia sem sinalização. Ouvir então,  um desacato às suas pernas. O par já sabia que correr abreviava vários impropérios perturbadores. Escutar talvez? Tentativas frustradas, ela tinha um zunido interno, intermitente que não deixaria isso acontecer. O que fazer se nenhuma das alternativas, as expectativas e saídas não a fa...

Calor do inverno

Delícia esse vazio completo, esse amor incerto, essa estúpida situação Que brincadeira séria, companheira patética, esperança de alguma evolução, Então juntam-se forças, agregam-se cores, e nessa difusão Cala-se o discurso, o circo pega fogo, e é só ilusão.

Caçada Platônica

Minhas todas lembranças ou fantasias, já nem sei Meus todos sentidos, direcionados desde que te vi Suas todas gargalhadas ou distrações por aí Seus todos levianos laços, e novamente me perco de ti Apenas imagens, dos ares misturados de desejo e despudor Sonhando despertei brincadeiras infantis com seu calor Sinto mais que nunca o que não aconteceu Contando os passos largos que damos no breu Insiste em não perceber como poderíamos desfrutar Dessa doce e perigosa alegria que é amar Permanece incauto em outras curvas, outros perfumes Construindo tua fortaleza frente à minha avidez Corre como louco, mas corre desarvorado Que aqui por dentro existe o artifício de um caçador Te deixo ir longe e desfrutar do descampado Uma hora ou outra cairás exaurido, desamparado Daí então te alcançarei, confiante e gentil Descobrirás em minha sombra acolhedora, O que atabalhoadamente pela vida buscou e fugiu Parceria, loucura serena, volúpia benfeitora E te direi em sussuros o quan...

Alma

Encontra então os meus olhos, Enxerga neles o que aparece O que se esconde Para onde vão, o que procuram. Me responde, o que estão pedindo Brilham por qual luz Voltam-se para que lado Lágrimas entornadas por que motivo, Sua forma assemelha-se a que Abrem-se ou fecham-se por quem Cerram irritados quando Forçam-se a vislumbrar qual distância Contesta-os com rigidez Afronta habilmente minha alma E tenha-os para sempre como escravos.

Escolhas

Incerteza inconveniente, imprecisa Lá de dentro, dando agulhadas Uma eterna insatisfação, tolerando o dia Cresce indiscriminada, insolente  Como o sereno em noite de inverno Impulso ao prático golpe para arrancá-la  Eliminando assim o incendiar do pensamento Agarrar por suas extremidades soltas esse desespero sem julgamento seria calmaria vesperal Não existindo expectativas além das memórias Perspectiva lógica e indiferente Persiste desdobrando-se Braços maiores, mais fortes Resistindo aos limites imaginados Aperta sufocando, impiedosa Diminuindo, acabarei por desaparecer Escolhas sempre são terríveis, sujeitas à sorte.

Equívoco

Sinto que não posso mais ignorar, não tenho mais saída, não há mais como protelar. Me preparo psicologicamente. Buscando pela melhor opção, nos tópicos eficácia e custo benefício, pesquiso os vários estabelecimentos. Em telefonemas com informações detalhadas sobre cada plano chego a perder um dia inteiro, e faço com que os interlocutores às vezes cheguem a perder a fleuma com tantos detalhes exigidos. Afinal, é uma decisão extraordinária e de grande impacto a médio, longo prazo. Depois de larga apreciação, tomo meu caminho e confirmo minha presença no local escolhido. Chega o dia. Um misto de excitação e temor, mas sigo com determinação. Estaciono meu carro. Sou atendida com um sorriso e muita simpatia, o que me deixa mais serena. Alguns minutos para a apresentação do espaço e as profissionais envolvidas, e começo as atividades. Suada e trêmula, extremamente feliz, quando finalizo o circuito e estou prestes a fechar o contrato e fazer o pagamento, vêm a surpresa. Entrei na academia er...

Luando

Quero a noite plácida O beco com saídas O parque de diversão Quero a frase precisa A tragédia na troça O brilho na escuridão Quero aquele compromisso ligeiro O sonho no travesseiro A profunda inspiração Pulsando em meu peito O princípio e o meio Sem qualquer direção

Avesso

Vislumbrar a feiúra, a sombra e o medo, Enfrentar a murada, o incerto, o desapego, Trazer à frente o espectro, a dor, a definição do que é objeção. No susto da combinação de imagens desejadas, Perdidas ao vento, sob folhas desgarradas, Uma árvore de outono tortuosa, Pétalas que um dia floresceram. Volta-se então ao lado sofrido e conhecido, à tacada certeira e desferida em enfrentamento, Ao menor valor da paisagem inóspita, sem vida, E descobre-se a beleza do incógnito. Solidão acompanhada de vultos, Vazio preenchido por ganchos de experiência morta, suplantam a circulação de suas raízes, Mas não encobrem as próprias sementes.