Ver simplesmente a confundia, não a ajudava. Nunca. Enxergar, por outro lado, a amargurava ainda mais. Passou esses anos todos sem um mínimo vislumbre da verdade que lhe propunha a vida. Inventava a sua. Combinação de livre associação, suposições e muita criatividade, misturadas a uma ponta de desmerecimento e inadequação. Com os braços estendidos e as mãos trêmulas, tateava o intangível. Vez em quando pedia auxílio de um ou outro para guiá-la, sem sucesso. Não confiava em ninguém! Se perdia tantas, incontáveis vezes, mas sempre parecia parar no mesmo lugar. Recostava para retomar o fôlego, ou apenas por uma preguiça indomável. E lá ia ela de novo, em mais uma travessia sem sinalização. Ouvir então, um desacato às suas pernas. O par já sabia que correr abreviava vários impropérios perturbadores. Escutar talvez? Tentativas frustradas, ela tinha um zunido interno, intermitente que não deixaria isso acontecer. O que fazer se nenhuma das alternativas, as expectativas e saídas não a faziam progredir? Desmereceu. Desencantou. Desligou. Por um átomo de segundo, um arrepio, atemporal. Encontrou sua sombra. Aquela que por anos tentava ignorar. Que responsabilizava pelos infortúnios, erros e dissabores. Conheceu enfim seu desenho, dimensão e densidade; vazia. Arriscou-se a cheirá-la e; ar em seus pulmões. Abriu a boca, a língua saboreando seu gosto; insossa. Sentou abismada ao lado dela, que se encolheu, envergonhada. Soube naquele instante, dali pra frente teria sua companhia.
Sentindo o ventinho frio nos fundilhos da calça de um pijama puído, arrastando as chinelas na preguiça de um domingo flácido, transporto Crisântemo com destino ao alívio de seus intestinos caninos. Por entre as ruas cruzamos com Gagá, a pastora do vizinho Hering, que insiste em latir esganiçada, com Einstein da velhota Any Any, elegante no porte mas inconveniente em investigar com seu focinho minhas partes pudendas, ou com a basset asssemelhada a um gato gordo e carente da Puket. Temendo por uma investida agressiva, ou acolhendo carinhos de língua, nós, os dirigidos donos, nos cumprimentamos e jogamos a mesma conversinha banal fora, enquanto os bichos se reconhecem pelo faro. A noite chegara a pouco, e ouvimos o burburinho de animados grupos nos bares, recém chegados do almoço em família. Olhares analíticos deles, vezes para os animais, vezes para nosso descompromisso. Falta pouco para juntar-me àquele chopp e risadas, deixar meu pet descobrir outras plagas e caminhar so...
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