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Caminhando solta nessa calçada larga, pisando firme, sentindo as plantas dos pés refestelarem-se, nessa tarde de domingo besta. Tudo parece ter uma dimensão diferente hoje. Cada uma das árvores que vencem o cimento duro calculadas em seus quadrados de vida, parecem mais verdes e se fazem tão especiais por folhagens menores ou maiores, mais grossas, troncos finos e delgados, outros tantos agressivos disputando com os postes volume e atenção. O céu num azul de comer de colher, nuvens espaçadas rindo da terra abafada. As pessoas, a natureza da cidade de ninguém...
O sei lá quem, indefinido homem de cabelos longos, peito nu, pernas longas afastando as pernas como quem quisesse defender um espaço que já não mais o pertence a algum tempo. A senhorinha de cabelos brancos, cenho indecifrável com ritmo de salsa, o casal afoito que se beija com descrédito pelo amanhã, o irritante descompromisso do skatista atravessando o caminho dos passantes, as mãos entrelaçadas de veias velhas de amor e compromisso, a menina de cabelos revoltados correndo de seus pais em caretas risíveis. E seguem baixos, médios, altos, enfeitados, gordos, estranhos, magros, desleixados, rotos, perfumados, falantes, articulados, cabisbaixos...gente. Aos montes, em grupos ou sós, gente. Barulhenta ou silenciosa, gente. Faço parte dessa turba, surpreendemente.

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Caçada Platônica

Minhas todas lembranças ou fantasias, já nem sei Meus todos sentidos, direcionados desde que te vi Suas todas gargalhadas ou distrações por aí Seus todos levianos laços, e novamente me perco de ti Apenas imagens, dos ares misturados de desejo e despudor Sonhando despertei brincadeiras infantis com seu calor Sinto mais que nunca o que não aconteceu Contando os passos largos que damos no breu Insiste em não perceber como poderíamos desfrutar Dessa doce e perigosa alegria que é amar Permanece incauto em outras curvas, outros perfumes Construindo tua fortaleza frente à minha avidez Corre como louco, mas corre desarvorado Que aqui por dentro existe o artifício de um caçador Te deixo ir longe e desfrutar do descampado Uma hora ou outra cairás exaurido, desamparado Daí então te alcançarei, confiante e gentil Descobrirás em minha sombra acolhedora, O que atabalhoadamente pela vida buscou e fugiu Parceria, loucura serena, volúpia benfeitora E te direi em sussuros o quan...

A vontade, o desejo, a loucura e a volúpia... A história interrompida, o olhar entrecortado, a palavra não dita... A falta de algo palpável, justificável, claro, Torna-me refém de uma voz que ecoa nos ouvidos Não pare até que acabe, Não esmoreça, nem esfrie. Caldeirão de ilusões que inebria e esgota, Nebulosa fumaça de razões absurdas. Em sua superfície todas as cores se misturaram. Alga boiando à deriva no mar, Buscando uma rocha, um ouriço, um navio para entrelaçar. A imperfeição que flutua brilhando Em seu próprio e frágil movimento ao luar. Minha magia, forca aos sonhos, Minhas frases, tesouras ao escrever, Meus passos, buracos seguindo, Meu coração e minha pele, elásticos adaptam-se à minha alma. Resultado deste fogo que não apaga, Da descoberta do invisível, mas sensível espectro, Do impulso incontrolável e incabível, Da promessa que talvez nunca se concretizará.

Êxtase

Um caminho a trilhar, Sem mapa ou bússola, Sem segurança ou planos, Simplesmente fé. Aprender a alcançar, Conheço a trajetória, Só não consigo enxergar. Em que tempo, De que forma, Em qual direção, O quanto de persistência. Sussurro à espectros, Indagando num silêncio perene, Mas contestam antigas miragens, Os devaneios já conhecidos. Perder para conquistar, Deixar para vir, Desencontrar para finalmente descobrir. Descortinar o enlace, Desmedir o limite, Agravar a tranqüilidade. A verdade que não é incondicional, A dúvida que guardo em mim, O desejo secreto, A porta entreaberta. Eu conheço a crueldade, Mas não sei arrancá-la, Como dar vazão sem ferir. Ânsia por entendimento, Veleidade pelo cálido, Necessidade à receptividade, Que venha o encantamento do já visto, Junto com a desesperança, Saberei que nada é plano, preto ou branco, Dentro sou caleidoscópio. Tenho hoje minha idade, Meus momentos, minha dor, Frustrações, raiva e afetos. Escancaro minhas veias, Tenho o meu como certo indef...