Intupiram meu bueiro, jogaram lixo na minha calçada! O causador do mal cheiro nem medo da repreenda teve ao sujar minha passagem. Testemunhas podem descrevê-lo em detalhes. Em sua sordidez não se apressou ao conspurcar meu canto. Lembro-me que havia acabado de desobstruir o acesso, com o trabalho e dedicação de formiga operária na construção de nova morada. Conquistara o fluxo, a limpeza almejada e, de repente, tudo emporcalhado, encalacrado de novo. Agora além de pás, vassoura, me armarei também de vigilância ostensiva. Quero desafiar o próximo porcalhão que virá, visto que é inegável a repetição do ato, a repetir a façanha sob minha mira. Recomeço a livrar de impurezas minha entrada. Na esperança que se mantenha limpa. Senão, a saída será putrida como a que me impuseram desrespeitosamente.
A vontade, o desejo, a loucura e a volúpia... A história interrompida, o olhar entrecortado, a palavra não dita... A falta de algo palpável, justificável, claro, Torna-me refém de uma voz que ecoa nos ouvidos Não pare até que acabe, Não esmoreça, nem esfrie. Caldeirão de ilusões que inebria e esgota, Nebulosa fumaça de razões absurdas. Em sua superfície todas as cores se misturaram. Alga boiando à deriva no mar, Buscando uma rocha, um ouriço, um navio para entrelaçar. A imperfeição que flutua brilhando Em seu próprio e frágil movimento ao luar. Minha magia, forca aos sonhos, Minhas frases, tesouras ao escrever, Meus passos, buracos seguindo, Meu coração e minha pele, elásticos adaptam-se à minha alma. Resultado deste fogo que não apaga, Da descoberta do invisível, mas sensível espectro, Do impulso incontrolável e incabível, Da promessa que talvez nunca se concretizará.
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