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Meu silêncio é barulhento, Insatisfeito, espaçoso, Briguento, fanfarrão Minha vontade enfrenta minha loucura, Meu universo é pequeno, e lotado de sentimentos, Minha cabeça encarcera minhas ideias Milhões de esperanças num cinismo infeliz Montes de passos para o nada, Moldes desiguais de uma forma perfeita Deriva de algo que já não é meu, E quem mesmo pode ser esse eu, Que tempo terá o ritmo da minha dança?

Exaustão

Virar a mesa           Chutar as cadeiras Puxar a toalha           Rasgar o tapete Arremessar os pratos           Espatifar as taças Entortar os talheres           Quebrar o lustre Derreter as velas          Esmigalhar o pão Pisotear a comida Destruir com violência e rapidez           Manchar o chão de sangue os pés perfurados           Manchar as paredes de sangue as mãos lanhadas           Manchar o vazio de sangue o corpo inerte                       a alma morta              ...
Por instantes em imaginação, o quanto minha vida inteira poderia ter sido cercada por aquela água? Cálida, serena e transparente, tocava meus sonhos, envolvia meu desejo, ligava à outra alma a minha límpida transformação.

Novo

Vamos brincar num outro parque Aquele que a grama cresce perturbada Que tem bancos pichados, terra remexida Que a chuva empoça Que a luz rebate nos troncos das árvores Nos perder na trilha desfeita, nas folhas caídas Tropeçar em frutas podres, beber da água turva Limpar o passeio arrastando os pés na lama Vamos brincar num outro parque?

Engano?

Tudo mais ou menos perto                Quase aqui e lá adiante        Procura desmedida                         Sem chegar descansado          Trazendo e levando                                                                Ouvindo e gritando              Nada captado, nada guardado            ...

Foi um Momento

Foi um momento O em que pousaste Sobre o meu braço, Num movimento Mais de cansaço Que pensamento, A tua mão E a retiraste. Senti ou não ? Não sei. Mas lembro E sinto ainda Qualquer memória Fixa e corpórea Onde pousaste A mão que teve Qualquer sentido Incompreendido. Mas tão de leve!... Tudo isto é nada, Mas numa estrada Como é a vida Há muita coisa Incompreendida... Sei eu se quando A tua mão Senti pousando ‘Sobre o meu braço, E um pouco, um pouco, No coração, Não houve um ritmo Novo no espaço? Como se tu, Sem o querer, Em mim tocasses Para dizer Qualquer mistério, Súbito e etéreo, Que nem soubesses Que tinha ser. Assim a brisa Nos ramos diz Sem o saber Uma imprecisa Coisa feliz. Fernando Pessoa

É você

Vim com essa febre Que não passa preciso que padeça Primitiva vontade de perigo Golpe dentro da minha imaginação Como tudo que sempre foi Minha verdade de mentira Meu castelo de vento depois de nunca mais Medicina da satisfação momentânea perfume sem flor vai num ritmo dissonante e idiota Ignora estúpido porque quando tiver consciência será incontrolável, responsável Sentirá na mesma velocidade e tenho pena do quanto terá perdido o que já ganhei em você, em mim.
TEM COISAS QUE EU SÓ FAÇO PARA VOCÊ, PENSANDO EM MIM TEM COISAS QUE EU FAÇO PARA MIM, PENSANDO EM VOCÊ TEM COISAS INCONTROLÁVEIS, ESSAS IMPENSADAS QUE FAÇO SÓ PARA NÓS

Ida sem Volta

Mulher desajeitada e mal procedida, subiu naquele ônibus com a cabeça nas nuvens. Flutuava tanto entre a esperança e o temor, que se deixou enganar facilmente. Com o dinheiro embaixo da sola do tênis, assombrada pelas alarmantes notícias de como andam violentos os tempos, casaquinho nos ombros, para o prejudicial porém insubstituível ar-condicionado, munida de três barrinhas de cereal para uma eventual fome no meio do caminho, e uma coletânea de contos de Tchekhov para fugir do país tropical que a fazia transpirar, lá foi a palerma enfrentar infindáveis quilômetros de angústia . Mesmo que a idiota tivesse tido sorte, o que não foi o caso, a viagem já seria uma provação pela quantidade de delírios inconfessáveis que passavam por sua mente. Mas outras vozes foram ouvidas. Vozes externas. De uma senhora logo no assento atrás do seu, que vociferava dogmática, moral e bons costumes (os dela é claro, a mulher modelo de Niteroi) a uma desenxabida passageira que sem escapatória, com um bebê en...
Invoco sua entrega Entreaberta a boca sussurra a paixão Falseio meu desejo Ariscos meus olhos evitam a verdade Cerco sua indiferença Impedidos meus braços estreitam o sonho Percebo meu enlevo Arrepiado meu corpo treme a imaginação Suponho sua reação Surdos meus ouvidos incomodam a consciência