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Vamos brincar num outro parque Aquele que a grama cresce perturbada Que tem bancos pichados, terra remexida Que a chuva empoça Que a luz rebate nos troncos das árvores Nos perder na trilha desfeita, nas folhas caídas Tropeçar em frutas podres, beber da água turva Limpar o passeio arrastando os pés na lama Vamos brincar num outro parque?

Engano?

Tudo mais ou menos perto                Quase aqui e lá adiante        Procura desmedida                         Sem chegar descansado          Trazendo e levando                                                                Ouvindo e gritando              Nada captado, nada guardado            ...

Foi um Momento

Foi um momento O em que pousaste Sobre o meu braço, Num movimento Mais de cansaço Que pensamento, A tua mão E a retiraste. Senti ou não ? Não sei. Mas lembro E sinto ainda Qualquer memória Fixa e corpórea Onde pousaste A mão que teve Qualquer sentido Incompreendido. Mas tão de leve!... Tudo isto é nada, Mas numa estrada Como é a vida Há muita coisa Incompreendida... Sei eu se quando A tua mão Senti pousando ‘Sobre o meu braço, E um pouco, um pouco, No coração, Não houve um ritmo Novo no espaço? Como se tu, Sem o querer, Em mim tocasses Para dizer Qualquer mistério, Súbito e etéreo, Que nem soubesses Que tinha ser. Assim a brisa Nos ramos diz Sem o saber Uma imprecisa Coisa feliz. Fernando Pessoa

É você

Vim com essa febre Que não passa preciso que padeça Primitiva vontade de perigo Golpe dentro da minha imaginação Como tudo que sempre foi Minha verdade de mentira Meu castelo de vento depois de nunca mais Medicina da satisfação momentânea perfume sem flor vai num ritmo dissonante e idiota Ignora estúpido porque quando tiver consciência será incontrolável, responsável Sentirá na mesma velocidade e tenho pena do quanto terá perdido o que já ganhei em você, em mim.
TEM COISAS QUE EU SÓ FAÇO PARA VOCÊ, PENSANDO EM MIM TEM COISAS QUE EU FAÇO PARA MIM, PENSANDO EM VOCÊ TEM COISAS INCONTROLÁVEIS, ESSAS IMPENSADAS QUE FAÇO SÓ PARA NÓS

Ida sem Volta

Mulher desajeitada e mal procedida, subiu naquele ônibus com a cabeça nas nuvens. Flutuava tanto entre a esperança e o temor, que se deixou enganar facilmente. Com o dinheiro embaixo da sola do tênis, assombrada pelas alarmantes notícias de como andam violentos os tempos, casaquinho nos ombros, para o prejudicial porém insubstituível ar-condicionado, munida de três barrinhas de cereal para uma eventual fome no meio do caminho, e uma coletânea de contos de Tchekhov para fugir do país tropical que a fazia transpirar, lá foi a palerma enfrentar infindáveis quilômetros de angústia . Mesmo que a idiota tivesse tido sorte, o que não foi o caso, a viagem já seria uma provação pela quantidade de delírios inconfessáveis que passavam por sua mente. Mas outras vozes foram ouvidas. Vozes externas. De uma senhora logo no assento atrás do seu, que vociferava dogmática, moral e bons costumes (os dela é claro, a mulher modelo de Niteroi) a uma desenxabida passageira que sem escapatória, com um bebê en...
Invoco sua entrega Entreaberta a boca sussurra a paixão Falseio meu desejo Ariscos meus olhos evitam a verdade Cerco sua indiferença Impedidos meus braços estreitam o sonho Percebo meu enlevo Arrepiado meu corpo treme a imaginação Suponho sua reação Surdos meus ouvidos incomodam a consciência

PRETÉRITO IMPERFEITO ou SEMI BREVE

Não era tarde Cedo também não era Embora 'inda não fosse tempo Não permitindo o relógio geral ...o anacronismo de que são feitas as almas... partiu-se pois o que é em nome do que deve ser Não seja a Lua Satélite de toda noite Puro e só Ciclo inalcansável Nem seja a Terra Romântico Saturno de alianças intocáveis Não sejam descobertos os mistérios (?) Não seja a filosofia vã (?) Sim. Permita-se a Via Láctea! E que por ela possa brincar um anjo Em piruetas e cânticos de amor que Por hora Exercitam o "adeus!... olá!" Oferecido ao astro que o convida a morar Na amizade de sua luz adversa Assim repousa o último verso. Não fosse o relógio Não fosse o relógio Que marca o tempo de não ser dois Não fosse o relógio Que marca o tempo de não ser há mais tempo Não fosse o relógio.... Eu te teria Como tenho agora na minha eternidade imaginária Eu te beijaria Como me beijam os infinitos espasmos fugitivos da tua ausência Eu te amaria... ....
mudando tudo dentro do nada a única coisa que não muda é essa vontade a curiosidade de não ser o que sempre vi como um facão cortando fundo a pele sua boca na minha ainda tem o mesmo gosto não misturei nada nem me atrevi gostaria de voar por outros ares campos e areias diferentes dos seus mas só consigo sentir a sua maresia fazer o que obstinadamente persigo nessa imagem sensação e intensidade imensurável   inexplicável vai acontecer alguma coisa o mar trará outras conchas mas sua cor ainda estará na minha retina
sóbria cortando cebolas alerta atendendo campainhas sensível torcendo toalhas ativa revirando gavetas experimentando horas a rotina revisitando a garagem lugar comum