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Alma

Encontra então os meus olhos, Enxerga neles o que aparece O que se esconde Para onde vão, o que procuram. Me responde, o que estão pedindo Brilham por qual luz Voltam-se para que lado Lágrimas entornadas por que motivo, Sua forma assemelha-se a que Abrem-se ou fecham-se por quem Cerram irritados quando Forçam-se a vislumbrar qual distância Contesta-os com rigidez Afronta habilmente minha alma E tenha-os para sempre como escravos.

Escolhas

Incerteza inconveniente, imprecisa Lá de dentro, dando agulhadas Uma eterna insatisfação, tolerando o dia Cresce indiscriminada, insolente  Como o sereno em noite de inverno Impulso ao prático golpe para arrancá-la  Eliminando assim o incendiar do pensamento Agarrar por suas extremidades soltas esse desespero sem julgamento seria calmaria vesperal Não existindo expectativas além das memórias Perspectiva lógica e indiferente Persiste desdobrando-se Braços maiores, mais fortes Resistindo aos limites imaginados Aperta sufocando, impiedosa Diminuindo, acabarei por desaparecer Escolhas sempre são terríveis, sujeitas à sorte.

Equívoco

Sinto que não posso mais ignorar, não tenho mais saída, não há mais como protelar. Me preparo psicologicamente. Buscando pela melhor opção, nos tópicos eficácia e custo benefício, pesquiso os vários estabelecimentos. Em telefonemas com informações detalhadas sobre cada plano chego a perder um dia inteiro, e faço com que os interlocutores às vezes cheguem a perder a fleuma com tantos detalhes exigidos. Afinal, é uma decisão extraordinária e de grande impacto a médio, longo prazo. Depois de larga apreciação, tomo meu caminho e confirmo minha presença no local escolhido. Chega o dia. Um misto de excitação e temor, mas sigo com determinação. Estaciono meu carro. Sou atendida com um sorriso e muita simpatia, o que me deixa mais serena. Alguns minutos para a apresentação do espaço e as profissionais envolvidas, e começo as atividades. Suada e trêmula, extremamente feliz, quando finalizo o circuito e estou prestes a fechar o contrato e fazer o pagamento, vêm a surpresa. Entrei na academia er...

Luando

Quero a noite plácida O beco com saídas O parque de diversão Quero a frase precisa A tragédia na troça O brilho na escuridão Quero aquele compromisso ligeiro O sonho no travesseiro A profunda inspiração Pulsando em meu peito O princípio e o meio Sem qualquer direção

Avesso

Vislumbrar a feiúra, a sombra e o medo, Enfrentar a murada, o incerto, o desapego, Trazer à frente o espectro, a dor, a definição do que é objeção. No susto da combinação de imagens desejadas, Perdidas ao vento, sob folhas desgarradas, Uma árvore de outono tortuosa, Pétalas que um dia floresceram. Volta-se então ao lado sofrido e conhecido, à tacada certeira e desferida em enfrentamento, Ao menor valor da paisagem inóspita, sem vida, E descobre-se a beleza do incógnito. Solidão acompanhada de vultos, Vazio preenchido por ganchos de experiência morta, suplantam a circulação de suas raízes, Mas não encobrem as próprias sementes.

Há palavras que nos beijam

Há palavras que nos beijam Como se tivessem boca. Palavras de amor, de esperança, De imenso amor, de esperançar louca. Palavras nuas que beijas Quando a noite perde o rosto; Palavras que se recusam Aos muros do teu desgosto. De repente coloridas Entre palavras sem cor, Esperadas inesperadas Como a poesia ou o amor. O nome de quem se ama Letra a letra revelado No mármore distraído No papel abandonado Palavras que nos transportam Aonde a noite é mais forte, Ao silêncio dos amantes Abraçados contra a morte. Alexandre O'Neill - 'No Reino da Dinamarca'

Não sei quantas almas tenho

"Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei. De tanto ser, só tenho alma. Quem tem alma não tem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é, Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou. Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser. O que segue não prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo : "Fui eu ?" Deus sabe, porque o escreveu. " Fernando Pessoa

Os elementos

O rumorejar das folhas, a velocidade do vento A passagem das nuvens, a rotação da Terra O movimento das águas, A avidez, a sede O arder do fogo, o aquecer das almas As rugas no rosto, a passagem do tempo Os pés descalços, a temperatura do solo Os olhos descobertos, a visão límpida O bem profundo, o mal eterno.
"Desde que chegaste ao mundo do ser, uma escada foi posta diante de ti, para que escapasses. Primeiro, foste mineral; depois, te tornaste planta, e mais tarde, animal. Como pode isto ser segredo para ti? Finalmente, foste feito homem, com conhecimento, razão e fé. Contempla teu corpo - um punhado de pó - vê quão perfeito se tornou! Quando tiveres cumprido tua jornada, decerto hás de regressar como anjo; depois disso, terás terminado de vez com a terra, e tua estação há de ser o céu." Rumi

Camaleoa

Me virou do avesso Atravessou minha vida Desmereceu o tempo Acabei ferida Acreditou no gesto Entendeu, amargo Não ouviu o protesto o grito abafado Insisti o que pude Investi com afinco Mas em sua inquietude Rasgou-me por dentro Apareceu sem aviso Bagunçou sem querer E agora indeciso Certamente irá perder Porque horas valem muito Madrugadas seguidas Manhãs divididas Por um encontro fortuito Dispersam num passado Lembranças intermitentes Impedem um presente próspero Talvez uma felicidade iminente Fatos que não podem negar Palavras que não podem calar Sensações involuntárias Soluções precárias Me transformei tantas vezes Nesse momento mais uma então Encontrei-me novamente Distribuindo compreensão Camaleoa na floresta Cores que não enxerga Despista o predador Da caça faz-se o caçador